RIO - A faixa que os jogadores do Botafogo levaram a campo no domingo, contra o Flamengo, em que expuseram as dívidas do clube, atrasou o treino do time nesta terça-feira. O Bangu que foi convidado para um jogo-treino com o time reserva do Botafogo, marcado para às 9hs, teve que esperar mais de dua horas pelo fim da reunião entre a diretoria e o elenco alvinegro. O trio de arbitragem, que também aguardava a presença dos alvinegros no campo, chegou a descer aos vestiário afim de saber se a atividade seria mesmo realizada.
Depois de duas horas e oito minutos do horário marcado, os atletas alvinegros apareceram com o semblante muito sério, sem nenhum sorriso e sem brincadeiras.
O diretor técnico de futebol, Wilson Gottardo, já havia adiantado na segunda-feira que questionaria os jogadores pelo fato de terem escrito na mensagem detalhes da dívida. Segundo os jogadores, são três meses de salários atrasados, cinco meses sem direitos de imagem e falta de recolhimento do FGTS.
- Foi uma conversa com todo o grupo e a com a comissão técnica. Falamos sobre a questão da faixa e que o clube está correndo atrás para realizar os pagamentos. E também o Mancini falou durante 1h10 sobre o trabalho dele e a preparação para enfrentar o Cruzeiro - disse Gottardo
Ontem, em entrevista à Rádio Globo, o técnico Vágner Mancini revelou que o atacante Emerson Sheik ajuda atletas do Botafogo que estão sem salários. O jogador, contratado por empréstimo junto ao Corinthians, recebe graças ao acordo feito em sua contratação. É o próprio clube paulista que paga seus vencimentos.
- O Emerson socorre alguns jogadores financeiramente, e é bom que todos saibam disso. O que ele tem hoje é fruto de anos e anos de batalha para chegar nessa situação. Se ele recebe de forma diferente dos outros não é um problema, pois só dessa forma ele poderia estar com a gente - afirmou Mancini na entrevista.
A manifestação de domingo, no clássico com o Flamengo, tinha sido comunicada à diretoria. Mesmo assim não agradou aos dirigentes do clube. Para o diretor técnico, Wilson Gottaro não havia necessidade de expor cada dívida do clube, e isso acabou atrapalhando o rendimento dos jogadores no campo.
- Vivemos uma situação atípica, há muito tempo que eu não vivia uma situação de atraso tão grande. Isso tem causado um desgaste muito grande em todos os setores do Botafogo. Qualquer ser humano com cinco meses de salários atrasados tem dificuldade de se concentrar no jogo. Eu sabia da faixa e não dei opinião porque era uma decisão deles - disse Vagner Mancini.
Esta não foi a primeira vez que o elenco do Botafogo se manifestou publicamente contra o atraso dos salários. Nos dias que antecederam a partida contra Unión Española no Maracanã, jogo que valia a classificação antecipada para a fase de mata-mata da Libertadores, os jogadores protestaram de diferentes formas. No treino de sábado, sentaram no gramado antes do início das atividades. No domingo, se recusaram a treinar, e os protestos prosseguiram na segunda e na terça. Na quarta-feira, dia do jogo, o Botafogo foi derrotado em casa por 1 a 0 e na semana seguinte perdeu para o San Lorenzo, na Argentina, e foi eliminado da competição na primeira fase. A impressão passada foi que a de que os protestos, numa semana decisiva, tiraram o foco dos jogadores.
Para evitar que isso acontecesse novamente, os líderes do elenco resolveram mudar a estratégia e decidiram que a faixa seria uma forma mais tranquila de cobrar da diretoria uma solução para o atraso dos salários. O alvinegro está com 100% de suas receitas bloqueadas por conta de dívidas fiscais e tributárias.
O Botafogo enfrenta o Cruzeiro, líder do campeonato, no próximo sábado, às 18h30, no Maracanã. O time está em 13º, com 12 pontos.
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