BRASÍLIA - O deputado Luiz Argôlo (SD-BA) negou nesta terça-feira ter mantido relações empresariais e em órgãos governamentais com o doleiro Alberto Youssef, preso na operação Lava-jato da Polícia Federal. O parlamentar decidiu antecipar seu depoimento ao Conselho de Ética da Câmara, que estava marcado para amanhã.
O processo contra Argôlo foi aberto após denúncias de que Alberto Youssef teria bancado de um a dois caminhões lotados de bezerros para o deputado, a um custo de R$ 110 mil. Outras denúncias citaram mensagens atribuídas ao doleiro e ao parlamentar nas quais discutem pagamentos e saques em dinheiro.
No depoimento, ele justificou a intensa troca de mensagens com Youssef . Segundo ele, foram para cobrança de pagamento de um terreno, pertencente ao irmão de Argôlo, em Camaçari, na Bahia. Argôlo contou que o irmão dele passou por dificuldades financeiras após concorrer e perder a eleição para a prefeito de Entre Rios, em 2012, e para saldar dívidas, decidiu vender o terrenos.
O deputado disse que conheceu Youssef como um empresários com vários empreendimentos na Bahia, entre eles hotéis, e que estaria disposto a continuar investindo no estado. Ofereceu a ele o terreno de seu irmão e o doleiro quis comprar. Que preço negociado foi de R$ 375 mil. Mas que, depois de pagar um sinal, Youssef disse a ele que estava com problemas para pagar o restante do valor.
Segundo Argôlo, inicialmente o doleiro afirmou que eram problemas contábeis com suas empresas. Primeiro pediu para passar em dinheiro e depois pediu que Argôlo passasse o nome de pessoas e empresas que estariam cobrando de seu irmão. Argôlo afirmou que recebeu de Youssef entre R$180 mil a R$ 200 mil deste valor, pagamentos feitos para terceiros. Mas como o valor total não foi pago, o terreno não foi repassado para o nome de Youssef. Segundo Argôlo, foi um contrato de gaveta e que ele não tinha cópias para apresentar nesta terça-feira.
— Eu passei para ele a conta do meu irmão. Ele disse: "tenho que fazer a transferência da empresa", disse ainda não estava com registro da nova empresa. Expliquei que meu irmão precisava pagar pessoas e ele (Youssef), me disse: me passe a conta de terceiros que precisam ser pagos e eu faço o repasse. Encaminhei várias, para 95% não foi feito repasse — disse Argôlo.
De acordo com o deputado, as mensagens que os dois trocaram sobre a empresa Bombaim e a compra de bezerros, era uma das tentativas de receber o dinheiro de Youssef, mas que ela não se concretizou .
Argôlo também negou ter recebido mais de R$ 1 milhão por meio de duas empresas do Ceará, e ser sócio informal, ao lado de Youssef, da empresa Malga Engenharia.como afirmou a contadora Meire Poza em depoimento ao Conselho de Ética. Argolo disse que os depósitos que ela afirmou ter feito para o pai dele, Manuelito Argôlo ( R$ 60 mil), e para Élia da Hora (47 mil) foram paga pagar o terreno do irmão.
CONTADORA
Argôlo dispensou o depoimento da contadora Meire Poza como testemunha de defesa, depoimento previsto para ocorrer um dia depois. O parlamentar atacou a contadora, chamou-a de "criminosa" e também acusou-a de tentar receber dinheiro dele antes de falar com a mídia e depor no Conselho de Ética.
Segundo ele, Meire Poza, tentou falar com ele por telefone, o advogado aconselhou-o a não falar e foi, ele próprio, conversar com a contadora. O advogado Aluizio Correa Regis afirmou que Meire Poza pediu ajuda financeira de R$ 250 mil e o advogado negou fazer isso. E que, logo depois a revista Veja publicou matéria sobre os fatos e a contadora veio ao Conselho de Ética para fazer exclusivamente sobre Argôlo.
— Só estive com ela uma vez. Ele (Youssef) disse que ela era uma mulher que tinha um temperamento intempestivo. Ela disse que eu era conhecido como "bebê Johnson", talvez porque eu não fazia parte da estrutura que ela queria colocar (...) um bebê Jonhson, um besta? — afirmou Argôlo.
Na última vez que falou no Conselho de Ética, no começo de agosto e como testemunha do relator, Meire Poza — que prestou serviços de contabilidade para o doleiro Alberto Youssef — disse que o doleiro atuava como um "banco" e que repassava dinheiro para diversos políticos, entre eles o deputado federal Luiz Argôlo.
No dia do depoimento de Meire Poza, o deputado Marcos Rogério (PDT-RO) avaliou que a fala da contadora complicou a situação de Argôlo. Meire afirmou que, por intermédio dela, Youssef repassou mais de R$ 1 milhão para Argôlo e empresas ligadas a ele. A contadora reafirmou que outros parlamentares também receberam dinheiro do doleiro, mas na segunda-feira se restringiu a falar apenas do parlamentar baiano, foco da investigação do conselho.
PEDIDO DE DESCULPA
No final do depoimento, o deputado disse estranhar o fato de as denúncias terem se focado sobre ele e pediu desculpas:
— Muito me estranha terem focado em mim. No interior se coloca a expressão "boi de piranha". Se cometi falhas, peço desculpas pela ingenuidade. Houve da minha parte acreditar na boa fé da pessoa que queria fazer negócios na minha terra. Não vou acusá-lo, não presenciei tratativas de negociação dele com outros, meu alívio de estar aqui hoje, me defendendo.
Antes do depoimento de Argôlo, o Conselho ouviu na manhã desta terça-feira quatro testemunhas de defesa, que pouco falaram sobre as denúncias de suposto envolvimento entre Argôlo e Youssef e apenas afirmaram que o deputado é honesto e trabalhador.
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